sexta-feira, 26 de junho de 2009

Sessenta machados.

I – O passado

O futuro é apenas o desejo de que o presente termine diferente do passado.
Maria Cecília trabalha cinco dias por semana, namora oito dias por mês, toma café em dias ímpares, come torrada toda quinta-feira, vai em sete velórios por ano, não atravessa ruas com nome de gente morta, acredita que vai morrer com fome, quando menina se sujou com cerejas, quando mulher se sujou na dúvida de um homem.
Duvidar é acreditar que mentiras pode fazer todas as suas verdades desaparecerem, nunca confiou no homem mais velho que jurava amar, jurar é assinar um contrato com a mentira, sem confiar foi se consultar em uma cartomante.

II – A Cartomante

Valdete era Rita, Alcinda, Marlene, Cassandra, Vera, era e não era ninguém.
Maria C. conheceu Valdete quando era Cassandra, mulher de unhas escarlates, charuto no canto da boca, vestido rodado, corrente de ouro, perfume importado, maquiada com o desgosto de só saber mentir pros outros e nunca pra si. Era romancista de histórias jamais escritas, mentidas. As mulheres que sentaram na sua frente enxergaram apenas o espelho dos desejos. O que era dito ali, era apenas dito, as interpretações vinham do desejo de serem amadas.

III – O futuro

As mãos de M. Cecília eram feitas, pintadas com esmalte primoso, pele clara, pintas de sol e marcas do tempo. Estendeu essas mãos tremendo, ofereceu o futuro a Cartomante de mãos velhas, unhas vermelhas, pele escura, cicatrizes e marcas do tempo.
Saiba que o futuro é mais fácil de ler do que o passado, o futuro é apenas uma faísca que incendeia a nossa esperança.
Valdete prometeu um amor, foi dizendo que Maria o encontraria vestido de Azul, talvez algumas listras, talvez. Se Maria soubesse que nada é encontrado, quando procurado de olhos bem abertos.

IV – O presente

Acordou ainda sem dormir, sonhou sem fechar os olhos, vestiu a melhor roupa e sorriu um sorriso. Caminhou pro trabalho sem colocar um pé no chão, sentou em sua mesa e viu todos os homens daquele lugar vestirem azul, alguns com listras,alguns.Mas a maioria formava um céu, todos vestiam azul.
O destino podia dizer que todo mundo poderia ser amado, o destino dizia que todos podiam ser seu amor. O destino apenas disse que o amor não está em nossas mãos, mas sim em mãos alheias.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Serpente Serpentina

Quando mais longe formos, mais perto de não voltar estamos.
O amor não precisa do meio, ali na metade que as coisas começam a falhar, surgem os planos, as promessas, as dividas e tudo fica sendo dor de cabeça. O amor quando não é nem fim e nem começo te obriga a querer casamento, financiamento, casa própria e filmes alugados.
Nenhum canto é mais só seu, nenhum aparelho de barbear é individualmente seu, o carrinho de supermercado acostumado com a dieta cerveja-torresmo-picanha agora carrega coisas que o seu dinheiro não foi feito pra gastar.
As suas roupas são mais coloridas, o seu intestino precisa de Danone, tudo que come é light e vem com queijo branco. É tanto suco de soja que você bêbado disso pergunta em que corredor do supermercado a linha que dividia os dois seres acabou? Aonde começa ela e termina você?
Saiba que o amor é fevereiro! O mês mais curto do calendário e o mais longo na Bahia, vinte oito dias, quiçá vinte e nove dias pro amor vestir a fantasia da paixão e acontecer, as preocupações prorrogadas até novembro, aí só falta um mês pro ano terminar. Quanto mais anos, mais o amor não é amor, uma forma de aniversário que não se apagam velas, só o coração.
Então se o amor tivesse apenas o começo e o fim, seriamos mais felizes? A paixão nasceria no sábado à noite, conheceríamos a sogra no domingo do casamento, começaríamos a semana em Lua de mel, na terça reclamaríamos aos amigos que ela não é mais a mesma, na quarta discutiríamos a relação e brigaríamos feio, na quinta ela volta pra casa da mãe e o pai liga cobrando o dinheiro emprestado, na sexta nos divorciaríamos e mandaria ela pro inferno. Oh céus, a vida seria mais prática, rápida e objetiva. Se o meu coração fosse americano, comeria apenas em Fast-Food.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Aliar

Não vou dizer do seu lugar e nem abrirei os seus olhos, leio de trás pra frente e começo com o pra sempre não lido.