I – O passado
O futuro é apenas o desejo de que o presente termine diferente do passado.
Maria Cecília trabalha cinco dias por semana, namora oito dias por mês, toma café em dias ímpares, come torrada toda quinta-feira, vai em sete velórios por ano, não atravessa ruas com nome de gente morta, acredita que vai morrer com fome, quando menina se sujou com cerejas, quando mulher se sujou na dúvida de um homem.
Duvidar é acreditar que mentiras pode fazer todas as suas verdades desaparecerem, nunca confiou no homem mais velho que jurava amar, jurar é assinar um contrato com a mentira, sem confiar foi se consultar em uma cartomante.
II – A Cartomante
Valdete era Rita, Alcinda, Marlene, Cassandra, Vera, era e não era ninguém.
Maria C. conheceu Valdete quando era Cassandra, mulher de unhas escarlates, charuto no canto da boca, vestido rodado, corrente de ouro, perfume importado, maquiada com o desgosto de só saber mentir pros outros e nunca pra si. Era romancista de histórias jamais escritas, mentidas. As mulheres que sentaram na sua frente enxergaram apenas o espelho dos desejos. O que era dito ali, era apenas dito, as interpretações vinham do desejo de serem amadas.
III – O futuro
As mãos de M. Cecília eram feitas, pintadas com esmalte primoso, pele clara, pintas de sol e marcas do tempo. Estendeu essas mãos tremendo, ofereceu o futuro a Cartomante de mãos velhas, unhas vermelhas, pele escura, cicatrizes e marcas do tempo.
Saiba que o futuro é mais fácil de ler do que o passado, o futuro é apenas uma faísca que incendeia a nossa esperança.
Valdete prometeu um amor, foi dizendo que Maria o encontraria vestido de Azul, talvez algumas listras, talvez. Se Maria soubesse que nada é encontrado, quando procurado de olhos bem abertos.
IV – O presente
Acordou ainda sem dormir, sonhou sem fechar os olhos, vestiu a melhor roupa e sorriu um sorriso. Caminhou pro trabalho sem colocar um pé no chão, sentou em sua mesa e viu todos os homens daquele lugar vestirem azul, alguns com listras,alguns.Mas a maioria formava um céu, todos vestiam azul.
O destino podia dizer que todo mundo poderia ser amado, o destino dizia que todos podiam ser seu amor. O destino apenas disse que o amor não está em nossas mãos, mas sim em mãos alheias.